9 de fevereiro de 2011

Avaliação do Desenvolvimento do Projeto (entregue ao VAI em janeiro de 2011)

Avaliação do Projeto Jd. Keralux, Câmera e Ação – VAI 2010


A avaliação está dividida, como em seu cronograma, em duas etapas, a do documentário e a da oficina para a comunidade:

O Documentário

As frequentes visitas ao bairro Jd. Keralux, nos aproximou de alguns entrevistados, como lideranças políticas, e atores sociais. Assim, não correndo o risco de marcar a entrevista e acabar não acontecendo, e  após conhecê-los criamos as pautas  Além de uma pauta para entrevistas casuais, onde se tivéssemos alguma “brecha” de tempo ocioso, aproveitaríamos para ir a campo para entrevistar pessoas da comunidade, que não tínhamos planejado.
Importante ressaltar, que estava em período de eleições e fomos confundidos com publicitários políticos, e a comunidade enxergava que queríamos explorar a imagem deles “comunidade carente”. Este foi o nosso maior contra-tempo, convencê-los que éramos realmente cineastas, e que estávamos fazendo o documentário  para eles, que seria uma ferramenta para documentar a identidade, e a história da comunidade. Além disso, algumas pessoas nos pediram cachês.
Outra situação que enfrentamos, foi quando alguns moradores da região mais humilde e sem infra-estrutura do bairro, que estavam nas ruas, quando viram a câmera, entraram todos para suas casas, e mandaram as crianças entrarem. Depois de um tempo conversando com as donas de casa, descobrimos que há alguns anos um grupo de pessoas que se diziam estar fazendo um filme, fotografaram e filmaram as crianças, a comunidade fez a maior “festa”, as crianças brincaram em frente as lentes. Dois dias depois, as fotos destas crianças estampavam os jornais, com a manchete: “Crianças doentes, brincam no meio do lixo e esgoto”. Este acontecimento causou um grande trauma, onde as mães das crianças que saíram na foto, ficaram dias sem sair de casa de tanta vergonha, e quando saíam eram apontadas nas ruas. Mesmo assim, depois de conversarmos muito, conseguimos uma entrevista com uma dessas moradoras, a Dona Valdeci.
            Nas outras diárias, mesmo tudo planejado e confirmado, tivemos entrevistados querendo remarcar entrevista ou que não apareciam, assim, o roteiro de entrevistas casuais foi sendo cada vez mais usado. Por um lado, fomos nos adaptando a cada imprevisto do dia, mas uma coisa é certa, o filme foi tomando a cara da comunidade, onde temos mais os moradores falando, do que personagens que se rotulam lideres comunitários. Daí veio uma escolha da direção, a dona Valdeci, assim como qualquer um dos líderes, serão e terão o mesmo espaço no filme. Além de não buscarmos materiais de arquivo, pois apenas com a história contada, o espectador poderá  ver da mesma forma, o que ocorre em outras periferias, essas vidas e batalhas.
As diárias que seriam seis, se tornaram oito, isso por termos negociado com a locadora de equipamentos, de ficarmos com o equipamento no fim de semana que estaria entre duas diárias sem custo adicional.
Nas últimas diárias, tivemos uma das melhores entrevistas, olhando por um fator histórico, onde uma assistente social, vereadora em outro bairro, nos falou sobre o Jd. Keralux, sobre o loteamento e a grilagem , sobre as inúmeras reintegrações de posse e ainda sobre a  prisão popular de um delegado,este acusado de vender lotes ilegais. Começou a ser uma grande dificuldade parar de gravar, pois neste momento surgia entrevistas e pautas que seriam interessantes, mas era importante fechar esta etapa e iniciar a edição, só voltaríamos a gravar se fosse fundamental.
No momento, o filme está em seu segundo período de edição, onde trocamos de editor, pois ele não estava executando adequadamente o seu trabalho, e para o segundo corte fizemos uma repescagem nas entrevistas, buscando uma maior profundidade, e na tentativa de criar um debate entre os entrevistados, onde um complementa ou argumenta com o outro.
Uma coisa é certa, teremos não apenas um filme ambiental, mas extremamente social, onde inúmeras periferias da nossa cidade irão se identificar com o Jd. Keralux.


A Oficina

Abrimos as inscrições durante três semanas, através de cartazes, boca-a-boca, anúncio durante a missa, sendo cinco postos para inscrição. E mesmo com tudo isso, tivemos apenas cinco inscritos. Na véspera do início das aulas, fizemos um panfleto, convite para o curso, e fomos na Feira Noturna do bairro abordar pessoas para levar as aulas. Começamos o curso com nove alunos. Mantivemos aberto para entrar nas aulas, durante mais duas semanas, para que os alunos pudessem convidar amigos.
Já na primeira aula, fizemos dinâmica de apresentação, para eles se entrevistarem usando a câmera,  estas que esteve sempre nas mãos de alunos e professores registrando as aulas. Chegamos a ter 16 alunos flutuantes, pois as faltas eram constantes. Mesmo assim, chegamos a seguinte conclusão, não vamos punir, ou obrigá-los a estar presentes em todas as aulas em troca de certificado. Vamos agir, deixando a aula cada vez mais interessante, para que eles não queiram ir embora. Isso foi um grande acerto, pois depois quando nos conhecemos um pouco melhor, soubemos que as faltas eram justificáveis, devido a trabalho ou escola, e se “puníssemos” era capaz de ficarmos sem nenhum aluno.
Em um segundo momento, o problema que tivemos foi com relação ao espaço, não pela falta dele, mas por uma falta de responsabilidade por parte da instituição que nos cedeu. Começamos as aulas no Centro Comunitário Nossa Sra. Aparecida, mas houve dias que chegamos e onde iríamos utilizar para a aula estava havendo festa. Apartir daí fomos para o outro espaço, o qual  usaríamos somente no momento final da Oficina nas aulas de edição, como a situação no espaço anterior começou a ficar insustentável, mudamos o local das aula definitivamente para o Instituto União Keralux (INKER) o que foi um ganho, pois a estrutura do INKER é melhor e tivemos apoio técnico sempre presente.
            Aplicamos algumas atividades criativas para os alunos fazerem em casa, mas também não obrigatória, mas quem as fazia era contemplado com a utilização de sua atividade em outra na sala de aula , como motivo do exercício. Assim quem não as fazia acabava adquirindo interesse em fazê-la e nos pedia para fazer e entregar atrasado, podendo observar suas idéias sendo discutidas em aula.
As aulas acabaram se estendendo para além do horário, em alguns dias, onde todos queriam expor suas idéias e roteiro, ou mesmo quando os alunos perguntavam diversas coisas referentes a cinema.
Dividimos o curso em três etapas, a primeira de preparação e sensibilização para o documentário, onde partiríamos de um caso, foto, música, personagem iniciando idéias para o desenvolvimento do roteiro. Neste momento da oficina, tínhamos nove alunos, estes todos comprometidos com as próximas etapas da oficina. Foram formados três grupos de trabalhos, que escolheram os seus temas e colegas do grupo, sendo os seguintes temas desenvolvidos:

-         Gravidez na adolescência
-         Arte na Juventude
-         História do Jd Keralux

A segunda de pesquisa e produção, e pauta de entrevista, iniciando as gravações. Mas antes de saírem em dia de aula para gravar fazíamos com cada um dos três grupos, uma avaliação técnica, pensando o que fazer para termos uma iluminação e som de maior qualidade com o mesmo equipamento.
A terceira e última foi de edição, onde realizamos a análise do que foi gravado, mas uma avaliação de conteúdo, na tentativa de buscar um olhar de montador e diretor em cima do que tivemos como discurso, mensagem ou informação.
Entre todas as etapas, a única que sofremos mais foi na de edição dos vídeos, onde os computadores não aceitaram o programa, não tinha leitor de DVD em todas as máquinas, resolvemos com HD externo e cabo USB, depois tivemos problema com  número de série do programa. Então, mesmo com apoio e suporte técnico não foi possível por questão de tempo editar com os alunos em aula. Nas duas últimas aulas, como forma de solucionar o problema e não perder o trabalho, os alunos separaram o que entraria nos seus filmes, roteirizaram a edição(decupagem) e na última aula, levamos os filmes prontos editados pelos professores de edição.
Os editores fizeram as seguintes observações: os materiais ainda não tinha grande qualidade técnica, mas que a medida que eles foram gravando, essa qualidade aumentava, isso por aprenderem a manusear e fazer com a mesma câmera, a melhora foi justamente na técnica que eles foram adquirindo. O conteúdo gravado em entrevistas existe profundidade, e isso é de um olhar formado e sensível.
O nosso maior estímulo ou bonificação, foi contemplar a emoção dos alunos quando assistiram seus filmes projetados, ali por enquanto apenas entre nós, e quando terminou a apresentação e se iniciou a conversa não existem palavras que revelem a emoção deles, mas sim lágrimas nos olhos, ou vozes engasgadas. Um dos alunos apenas faz uma afirmação, “ Agora eu sei porque vocês fazem cinema!”
Apesar dos contra-tempos a oficina atingiu seus objetivos, onde o principal é deixar com a comunidade não apenas câmeras, mas também documentaristas e cineastas iniciados, com um olhar sensibilizado para dar frutos, um olhar da própria comunidade. Assim,  num futuro próximo teremos mais vídeos do Jd.Keralux rodando em cineclubes e festivais. Ao final, foram sete concluintes da Oficina, alunos que variam em idade, sendo dois de 15 anos, uma de dezessete, três  entre 24 e 29, e um de 45 anos.

Avaliação e depoimento feito por Edson Costa
(coordenador da Oficina / ass de direção do Documentário)
Revisado por Julia Trommer
( arte-educadora da Oficina/ produção do Documentário) 



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