26 de setembro de 2010

O Documentário Terceira Diária - Uma Feira Noturna – por Edson Costa

A diária foi planejada para ser numa quinta-feira, o principal objetivo seria gravar a feira noturna do bairro JD Keralux, não poderíamos perder o registro do maior evento semanal da comunidade. Isto apontado por moradores e visitantes.
Mas começamos o dia logo depois do almoço, o plano era realizar inserts nas ruas, rio, obras de casas, e um pouco do cotidiano dos moradores.
Um dos destaques da tarde, entre diversas coisas que foram captadas, foi uma senhora que mora na beira do Rio, que começou a falar para a camera, isto, sem pedirem ou direciona-lo, a única intervenção da direção foi pedir para ela repetir o que tinha dito, depois da equipe ajeitar o quadro, e o microfone. Este pedido foi feito apenas para não perder nada do que esta senhora havia dito. Este acaso vem de encontro, de uma das referências do conceito da Diretora “Juliana Cavalcanti”, que gostaria de imagens e entrevistas mais soltas, dentro do cotidiano da comunidade, que a camera fosse convidada a entrar numa casa, ou intimidade de um entrevistado, como numa visita de um amigo.
Depois dos inserts, e acasos bem vindos, era o momento de gravarmos a feira noturna do Jd. Keralux, o primeiro plano “cena”, era a mudança da luz, do dia para a noite, a Camera foi colocada para gravar durante essa mudança de luz, além de gravar a montagem das últimas barracas. Mesmo porque quando chegamos, a feira já começava a ser montada, isso as 14hs da tarde.
O mais difícil de descrever impressões da feira, é por ser suspeito, pois adoramos tudo, desde a receptividade dos “feirantes”, até mesmo as delicias que a feira oferece, para muitos seria uma feira comum, mas não é apenas isso. Uma das características é que não vem apenas a dona de casa, correndo antes de fazer o almoço, ou depois de deixá-lo pronto. No horário que a feira está mais cheia é depois das 21hs, horário que o marido já voltou do trabalho, assim, não vemos apenas senhoras e moças na feira, mas vemos famílias, onde acabam jantando ali mesmo, mesmo porque nesta feira não tem apenas pasteis e caldo de cana, encontramos também Tapioca, Cocadas, Fondue de chocolate com frutas, Tempurá, Coxinha, Salgados, Yakisoba, e por ai vai... Quase uma grande praça de alimentação.
A produção que diga, ficamos entregando autorizações de imagem, onde a receptividade era tanta, que além da autorização ainda ganhávamos fondue, tempurá, tapioca... Se tivéssemos imaginado tudo isso, nem teríamos programado a janta da equipe, faríamos tudo na feira. Por outro lado, conseguimos dosar o apetite, e comemos por gula..
Neste dia, também contamos com visitantes em “set”, Déia e Ricardo, que foram para operar câmeras de making-of, utilizando também para fotografia, onde na imperfeição da luz que estourava das barracas, a Déia criou o conceito da luz na feira, muito bom, em cima das limitações técnicas se cria um conceito para aproveitar a limitação e seguir para um próximo obstáculo.
Para melhor caracterizar a feira, usarei aqui palavras de alguns entrevistados.

Sra Helena Souza Lima (barraca dos fondues de chocolate)
Adoro tudo isso aqui, moro no Ermelino Matarazzo, mas estou sempre pelo Keralux, meu marido Marivaldo trabalha no mercado. Além da feira também trago minha barraca, para as quermesses e festas do Keralux.
Aqui todos trabalham com a maior alegria, todos somos amigos, esta é a única feira que faço, e amo isso aqui, é a maior festa”. Helena trabalha na feira há 7 anos, conhece todo o bairro.

Sr João Almeida Lara (barraca de peixes)
Trabalho também em outras feiras, tanto de dia quanto a noite, para o feirante, as feiras diurnas ele só pensa quem vende mais, na noturna acabamos também fazendo amigos, onde acaba fazendo do trabalho um prazer. Esta é uma feira, que gosto de fazer, as pessoas daqui tem uma simpatia que não achamos em outros lugares. Trabalho em feiras todos os dias, também trabalho na feira do Jd. Piratininga e outras em Guarulhos. Em São Paulo depois que o Kassab obrigou as feiras durarem até meio-dia, ficou bem mais difícil trabalhar, e brigando com a prefeitura, conseguimos estender até as 13hs, assim também preferimos as feiras noturnas, é bem melhor para trabalhar., a noite todos se conhecem, fazemos amigos.” João está na feira do Keralux a 3 anos.

Sr. Marli Signorini de Matos, (barraca do Tempurá),
Só trabalho em feiras noturnas, pois o Tempurá é difícil de sair durante o dia. Esse meu tempurá é o mais italiano que conheço, peguei a receita e fui dando meus toques, estes italianos.
Moro no Tatuapé, e aqui no Keralux, lembro de antigamente, da minha própria infância, quando o Tatuapé era um pouco disso aqui, crianças e jovens nas ruas brincando, parece uma cidade do interior, onde achamos isso em São Paulo?. Essa feira também é à típica, pois parece mais uma quermesse, tem cara de festa. E vemos muita garotada por aqui, paquerando, conversando. Adoraria morar aqui.”
Uma das coisa mais comuns em feiras noturnas, é a presença de drogas, e esse problema não vemos aqui entre esses jovens, pode até existir, mas aqui na feira não vemos, é um clima bem familiar mesmo, onde todo mundo se conhece, é uma festa .” Marli está na feira do Keralux a 3 anos.

Fomos embora da feira as 22hs, onde o movimento de pessoas ainda estava num horário de pico, bem cheia. Além da vontade de ficar, ficou o desejo de ir de barriga vazia e comer e levar todas as delicias desta feira, dos temperos moídos na hora, passando pelos peixes frescos, frutas, verduras, e as delicias que já descrevi acima. Concordo com os entrevistados acima, é uma delicia trabalhar no Keralux!

Selecionados para Oficina de Documentário

Todos os inscritos estão selecionados.
As inscrições se encerraram, mas por mudança de estratégia, estamos fazendo convites individuais, por ainda haver vagas a serem preenchidas.
Ou seja os inscritos, que quiserem indicar a Oficina a uma amigo que não se inscreveu pode pedir a eles virem no primeiro dia de aula, pois passaremos uma ficha de dados para ser preenchida. Justificando que esses dados é apenas para controle e organização da Oficina.
Muito Obrigado pela disposição e interesse.
abraços!

Edson Costa
Cordenador e Arte Educador da Oficina

20 de agosto de 2010

flickr com fotos do projeto - por Lucas Duarte

http://www.flickr.com/photos/aquiloquevejo

O Keralux... Duas primeiras Diárias (Edson Costa)

Nas duas primeiras diárias do documentário, tivemos coisas maravilhosas como o Seu Damião.“Vim pra cá, pra ficar perto de meus filhos. É só o que quero da vida que me resta”, levou uma vida muito difícil no interior da Bahia, calçou seu primeiros sapatos depois dos 20 anos de idade. Hoje trabalha numa doceria no bairro.


“Semana passada tinha um pessoal ai gravando, era coisa de politico, nesse período eles aparecem.”(filha do Seu Damião)

Com o fato de ser ano eleitoral, os moradores do bairro, que ainda não nos conhece, acham que estamos fazendo propaganda politica de candidatos. Em algumas circunstâncias nos pedem cachê para dar entrevistas, ou criam inúmeros empecilhos, para não entrevistarmos algumas pessoas. Isso para nós, tem sido o fato mais difícil.. A comunidade tem sua imagem muito explorada por politicos , que só aparecem nesses períodos eleitorais.

Um grande achado do acaso, foi uma outra revelação, da forma que a imagem da comunidade vem sendo explorada e difamada.

Quando fomos pedir autorização para gravar as crianças jogando bola , a um grupo de senhoras que conversavam, e nos observavam, tomamos conhecimento de um fato, que deixou os moradores apreensivos com câmeras filmadoras e fotográficas.

“Uma vez, há uns anos, veio aqui um pessoal, dizendo que tava fazendo um filme. Gravou e fotografou as crianças brincando, elas fizeram a maior festa. Uma de nossas vizinhas tirou uma foto em que eles colocaram um lenço na cabeça dela. Depois de alguns dias estava no jornal que as crianças estavam brincando no lixo, na água suja. Tinha uma foto do meu filho bem grande no jornal, dizendo que ele estava doente, que ficava brincando com o lixo, além de dizerem que minha vizinha estava também doente. Os dois estavam super saudáveis. Fiquei com tanta vergonha, passei semanas sem por minha cara na rua, e ainda meus vizinhos ficaram com raiva de mim, durante muito tempo.”(vizinha da Dona Valdeci)

Depois de muita conversa, ouvimos mais do que falamos, não conseguimos nem mesmo gravar o depoimento, que escrevi acima com minha vaga memória, mas conseguimos a Dona Valdeci para nos dar um depoimento, onde ela podia relatar e reivindicar as suas necessidades e de seus vizinhos.

“Tenho tantas coisas pra pra dizer, que quando começo, fico nervosa. Quando termino de falar percebo que deixei de falar várias coisas. São muitas coisas que ficam entaladas.” (Dona Valdeci, mora na rua do rio, onde gostaria que a comunidade do Keralux, conquistasse alguma área de lazer para as crianças do bairro)

Conversamos muito com a comunidade do bairro, expondo quais são os nossos objetivos com o documentário. Este que dará um retorno maior a comunidade, sendo usado como ferramenta para a população do Keralux. Onde temos sim, que melhorar a relação entre os moradores, assim como sensibilizar o poder público, aos problemas de regularização das habitações, como seus problemas ambientais e sociais.